domingo, 22 de janeiro de 2012

A [falsa] Santa

Tenho horror de quem não se respeita. Independente do sexo, da religião, da cor, do sorvete preferido, do tom de voz. Acho que a gente tem a obrigação de respeitar a própria imagem, o próprio corpo, a própria alma. Respeitar o amor-próprio, pois ele precisa do maior cuidado.

Conheço pessoas de todos os tipos. Sei reconhecer direitinho quando uma mulher precisa se auto-afirmar a todo instante. Chega a ser patético. Gostam apenas de provocar, de fingir uma ingenuidade, de forçar uma pureza.

Já curti a vida. Já aproveitei bastante, mas sempre respeitei minhas escolhas, meu corpo, a educação que tive. afinal, o mundo é bem redondo e o que a gente faz hoje é visto e lembrado amanhã. Acho que a gente deve se preocupar com a nossa imagem, não pelos outros, mas pra dormir tranquila.

Não gosto de quem se faz de santa, de prestativa, de solícita, de legal. Não gosto de quem fala miando, se finge de sonsa, faz caras e bocas. Não gosto de gente artificial, que tem duas caras, dois jeitos, dois comportamentos. Sou a favor da transparência, de gente de verdade, sem retoques, sem artifícios. Tenho pavor de mulher fingida. Que se finge de morta, mas no fundo rebola o tempo todo, faz cara de atriz pornô pra ser notada e depois diz que “ah-é-meu-jeito-sou-assim.” Tenho pavor de mulher que se insinua o tempo inteiro e depois diz “ não-entendo-porque-todo-mundo-olha-pra-mim. “ P-A-V-O-R.

Tem mulher que perde a linha. Com esse tipo, perco o rebolado. Quase esqueço a classe em casa. É que gente de mentira me tira do sério. Além disso, tenho horror de biscate. Acho que no fundo são todas perdidas, infelizes, coitadas, mal amadas. Precisam de atenção 24 horas. E esquecem que pra gente ter atenção de verdade precisa, em primeiro lugar, ser verdadeira. Com a gente mesma.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Eu nunca quis um amor perfeito.







Sempre quis mesmo foi um amor cheio de erros, que vão sendo alinhados durante o caminho. Porque se tudo já começa certo, não vive-se o prazer da vitória.

Sempre quis um amor quentinho, daqueles de aconchego no fim de tarde, de colo depois de um dia de cão, de beijo no nariz ao acordar.

Sempre quis um amor livre – sem a ideia desajustada que um pertence ao outro. Com menos regras ditadas – e mais pontos de vista ouvidos.

Sempre quis um amor com respeito. Sempre quis aquele respeito que te permite ver o outro como um outro ser – cheio de vontades e desejos. Respeito é aceitar que o outro é diferente de você.

Sempre quis um amor que me fizesse crescer. Por que o essencial, faculdade nenhuma ensina. O essencial aprende-se na troca de ideias, no debate, nos pontos de vista trocados.

Sempre quis um amor que me valorizasse. Não somente pelas coisas cotidianas, mas principalmente pelas qualidades que poucos enxergam.

Sempre quis um amor que me enxergasse. Mas não que enxergasse somente as coisas óbvias – porque, de obviedades, a vida está cheia. Sempre quis alguém que me enxergasse lá no fundo – e, ainda, sim, gostasse de mim.

Sempre quis alguém que quisesse ouvir verdades – e falar, também, na mesma proporção. Porque meias-verdades não interessam. Difícil mesmo é achar alguém que esteja pronto pra ouvir até o mais pesado, até o mais doído e retribuir na mesma moeda.

Sempre quis alguém que me achasse gostosa – mas que entendesse que gostosura, mora mesmo nas entrelinhas.

Sempre quis um amor que me mostrasse caminhos – invés de impor trajetórias.

Sempre quis um amor que não me reprimisse – pelo contrário, que me provocasse para que eu conseguisse mostrar o que vive escondido lá no fundo.

Sempre quis um amor que sonhasse. E que corresse atrás dos sonhos comigo. Não por imposição, mas por vontade de seguir a mesma trilha.

Sempre quis alguém que não tivesse jeito pra joguinhos. Porque deles, eu já me desencantei na adolescência.

Sempre quis alguém que me ganhasse nos detalhes. Alguém ao qual eu não conseguiria resistir. Alguém que trouxesse brilho pros meus olhos a cada nova atitude, a cada nova ideia a cada novo sorriso.

Sempre quis alguém pra ficar junto – alguém que entendesse que pra estar junto não é preciso estar perto o tempo todo, mas sim do lado de dentro. Por que a proximidade física nem sempre completa tanto quanto a do coração.

E não sei se foi por insistência ou merecimento – mas esse amor veio antes do esperado, contrariando os que diriam que amor completo é coisa rara. E hoje, entendo, que o amor bom é o amor livre – que se recicla todos os dias como energia renovável. O quanto vai durar – não sei. Prefiro a provisoriedade completa, do que a permeabilidade vazia.